quarta-feira, 19 de junho de 2019

O Impacto Das Cores No Mundo Pós-Contemporâneo

         







                                      O impacto das cores no mundo pós-contemporâneo


   Se compararmos a nossa situação atual com o período anterior a segunda guerra mundial notaremos grandes contrastes no que se refere a cor, no periodo pouco antes da segunda Guerra só usava-se cinza,uma letra poderia ser representada como azul, verde ou amarela , as cores não tinham importância, no entanto depois da segunda guerra mundial, as cores passaram a significar a humanidade, o vermelho alerta, o verde presente na ervilha , as compras... socialistas era seu aspecto monocromático: nossa explosão  de cores não aconteceu por lá.) Nosso entorno é repleto de cores que atraem a atenção dia e noite, em lugares públicos e privados, de forma berrante ou amena. Nossas meias e pijamas. conservas e garrafas, exposições e publicidade, livros e mapas, bebidas e ice-creams, filmes e televisão, tudo encontra-se em tecnicólor. Evidentemente não se trata de 
um mero fenômeno estético, de um novo "estilo artístico". Essa explosão de cores significa algo. O sinal vermelho quer dizer "stop!", e o verde berrante das ervilhas significa "compre-me". Somos envolvidos por cores dotadas de significados; somos programados por cores, que são um aspecto do mundo codificado em que vivemos. 
      As cores são o modo como as superfícies aparecem para 
nós. Quando uma parte importante das mensagens que nos programam hoje em dia chega em cores, significa que as superfícies se tornaram importantes portadores de mensagens. Paredes, telas,superfícies de papel, plástico, alumínio, vidro, material de tecelagem etc. se transformaram em "meios'' importantes. A situação no período anterior à guerra era relativamente cinzenta, pois naquela época as superfícies para a comunicação não desempenhavam um papel tão importante. 
Predominavam as linhas: letras e números ordenados em seqüência. O significado de tais símbolos independe de cores: um "A'' vermelho e um "A'' preto têm o mesmo som, e se este 
texto tivesse sido impresso em amarelo, teria o mesmo sen-
tido. Conseqüentemente, a presente explosão de cores indica um aumento da importância dos códigos bidimensionais. Ou o inverso: os códigos unidimensionais, como o alfabeto, 
tendem atualmente a perder importância.
       O fato de a humanidade ser programada por superfícies (imagens) pode ser considerado, no entanto, não como uma novidade revolucionária. Pelo contrário: parece tratar-se de  uma volta a um estado normal. Antes da invenção da escrita, as imagens eram meios decisivos de comunicação. Como os códigos em geral são efêmeros (como, por exemplo, a língua falada, os gestos, os cantos), somos levados a decifrar sobretudo o significado das imagens, nas quais o homem, de Lascaux às plaquetas mesopotâmicas, inscrevia suas ações e seus infortúnios. E, mesmo depois da invenção da escrita, os códigos de superfície, como afrescos e mosaicos, tapetes e vitrais de igrejas, continuavam desempenhando um papel importante. Somente após a invenção da imprensa é que o  alfabeto começou efetivamente a se impor. Por isso a Idade Média (e inclusive a Renascença) nos parece tão colorida se comparada à Idade Moderna. Nesse sentido, nossa situação pode ser interpretada como um retorno à Idade Média, ou seja, como uma "volta avant la lettre". 
      Não é uma ideia feliz, no entanto, querermos entender nossa atual situação como um retorno ao analfabetismo. As imagens que nos programam são do mesmo tipo que aquelas anteriores à invenção da imprensa. Programas de televisão são coisas bem distintas dos vitrais de igrejas góticas, e a superfície de uma lata de sopa é algo diverso a ela. A superfície de uma tela renascentista. A diferença em poucas palavras, é a seguinte: imagens pré-modernas são produtos de artífices ("obras de arte"),obras pós·modernas são produtos da tecnologia. Por trás das imagens que programam podemos constatar uma teoria científica, mas não se pode dizer o mesmo das imagens pré modernas. O homem pré-moderno vivia num outro universo imagético, que tentava interpretar o "mundo". Nós vivemos em um mundo imagético que interpreta as teorias referentes ao 
''mundo. Essa é uma nova situação, mais revolucionária. Para resumir isso, faremos uma pequena digressão sobre os códigos: um código é um sistema de símbolos. Seu objetivo é possibilitar a comunicação entre os homens. Como os símbolos são fenômenos que substituem ("signi-
ficam") outros fenômenos, a comunicação é, portanto, uma Substituição: ela substitui a vivência daquilo a que se refere. Os homens têm de se entender mutuamente por meio dos códigos, pois perderam o contato direto com o significado dos símbolos. O homem é um animal "alienado" (verfrem-
det), e vê-se obrigado a criar símbolos e a ordená-los em códigos, caso queira transpor o abismo que há entre ele e o "mundo". Ele precisa "mediar" (vermitteln), precisa dar um 
sentido ao "mundo". 
     Onde quer que se descubram códigos, pode-se deduzir algo sobre a humanidade. Os círculos construídos com pedras e ossos de ursos, que rodeavam os esqueletos de antropóides africanos mortos há 2 milhões de anos, permitem que consideremos esses antropóides como homens. Pois esses círculos são códigos, os ossos e as pedras são símbolos, e o antropóide era um homem porque estava "alienado para poder dar um sentido ao mundo. Embora tenhamos perdido a chave desses códigos (não sabemos o que esses círculos significam), sabemos que se trata de códigos: reco-
nhecemos neles o propósito de dar sentido (o "artifício").

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